segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Linha 4


No fim do ano passado, num questionável procedimento futebolístico aplicado à poesia, afirmei a um amigo que Max Martins era o maior poeta brasileiro vivo. Por mais que a minha declaração não tenha tido, à época, nenhuma justificativa ou explicação, eu buscava acreditar naquilo que falava. Há algumas semanas, no entanto, tive notícia da sua morte (10/01/2009). A bem dizer, conheço uma parte mínima da sua obra — que consiste no livro Caminho do Marahu e numa série de poemas esparsos que encontrei na internet.

É comum a informação de que a sua obra se divide muito nitidamente a partir do terceiro livro, H'era, no qual Max inicia seu contato e suas experimentações com as produções modernistas. Indo até este site e fazendo o percurso linear na pequena amostra da sua bibliografia, percebe-se como se dá a evolução — que se caracteriza, antes de tudo, por uma aceleração da prosódia, uma diversificação de ritmos. Em O estranho e Anti-retrato o poeta maranhense se escreve (pois então o seu lirismo era tradicional quanto à preservação de um sujeito poético — sabe-se lá se empírico ou não, mas incontornável) com a lentidão tradicional de certos versos de Drummond (o Drummond das vidas bestas):

A velha matriz branca
De portas largas
Sozinha na praça
Olhando o rio sujo.


Montaria dançando. Tarde preguiçosa.
Rua quieta. Jornal do prefeito
Com santo na primeira página.

E a usina bufando, bufando,
Engolindo lenha.

Na janela do posto do Correio
um cacho de bananas balançando.

(Mauná da Beira do Rio)

ou

(...)

Lavo as mãos.
Mas tenho de pôr a gravata,
E salvo a moral. Abano-me.

Rola o poema e o mundo.
E eu mudo.

(Poema)

Na sequência de sua obra, esse prosaísmo é completamente abandonado, por exemplo, nos poemas visuais — de reprodução impossível neste blog —, embora persista em outros momentos, já subvertido e redimensionado por uma pressa lingüística e existencial. Tudo muito claro nos belíssimos "Exílio 2" (de Caminho do Marahu) e "Num bar" (de O risco subscrito). E mesmo quando seu verso retorna à lentidão, à expressão clara e linear, com o sujeito poético se revelando aquela espécie de sábio, observador e conselheiro dos primeiros poemas, como em "A Cabana", resiste a novidade, a ânsia de uma experiência (poética ou não) sempre distante do óbvio:

É preciso dizer-lhe que tua casa é segura
Que há força interior nas vigas do telhado
E que atravessarás o pântano penetrante e etéreo
E que tens uma esteira
E que tua casa não é lugar de ficar
mas de ter de onde se ir

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Em tempo:

Não se encontra Max Martins nas livrarias. Dificilmente seus volumes são encontrados nas bibliotecas. Já são algumas gerações esbanjando nosso poeta.