segunda-feira, 6 de abril de 2009

Linha 13


E o ensaio, nos últimos dias, ganhou uma poderosa defensora: serrote, revista que ainda não li. Entre as suas motivações, a saudável tentativa de livrar o gênero do academicismo — muito embora eu acredite que as noções de academia e ensaio corram um perigo tremendo quando consideradas de forma exagerada: o acadêmico como mais rodapé do que texto; o ensaio como profusão desenfreada de interpretações sem embasamento. Há muito mais a considerar — erudição e fluência, por incrível que pareça, ainda são traços acadêmicos, assim como adereços inúteis e idéias rasteiras enchem as páginas dos supostos livre-pensadores. O anti-academicismo, admitamos ou não, é apenas mais uma face do anti-intelectualismo que nos marca.

Acredito, de fato, que a academia produza aberrações diariamente: textos nos quais Alfredo Bosi é citado para a indicação de que o conto deve ser "conciso", por exemplo. Algo esdrúxulo, desnecessário. No entanto, não sei se a atual força da cultura ensaística e crítica do nosso país, aqui pelos anos 00, nos permite esnobar setores inteiros dessa forma: não há poder suficiente para sobrepor-se ao ensaio acadêmico — não nos jornais, não nas revistas mensais. Sobrevive, de forma algo surpreendente, em revistas ou cadernos editados entre distantes e vazios meses, anos.

Outro campo, naturalmente, é o das resenhas interpretativas — que, vez ou outra, produz grandes textos nesses periódicos mais ligeiros citados anteriormente. Na edição de março da Bravo!, por exemplo, um caso exemplar: Cristovão Tezza resenhando o romance Questões de Honra, de Louis Begley. Ainda assim, todos nós sabemos que não há espaço suficiente para tanto e com tanta freqüência. Por isso, que não se enganem sobre o que eu disse: jamais negaria boas-vindas ao serrote — que, pelo menos no nome, não se equivocou.